As campanhas de saúde voltadas para o público masculino ganharam força nos últimos anos — tanto em julho, quanto em novembro — mas a negligência do homem diante da saúde, ainda preocupa profissionais da área. Geralmente, o médico só é consultado, quando os sinais da doença se manifestam.
Desde 1992, empresas, instituições e órgãos governamentais intensificam ações educativas para estimular os homens a adotarem hábitos mais saudáveis. A luta contra o tabagismo, o consumo excessivo de álcool e o sedentarismo representam os pontos-chave dessas mobilizações.
Segundo o médico cirurgião, Radmesse Britto, coordenador da UnexMED Jequié, “os homens não têm o hábito de buscar orientação de um profissional de saúde e nem de fazer exames preventivos, regularmente. Esse comportamento é perigoso. A ciência já provou que a falta de atenção à saúde pode levar a consequências sérias e até riscos de morte” , adverte.

Radmesse Britto, coordenador da UnexMED Jequié
Recusa em buscar ajuda médica é comum entre homens, revela pesquisas.
Levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) em 2024 mostrou que 46% dos homens acima de 40 anos só procuram o médico quando a doença se manifesta, e que um em cada três, sequer realiza exames preventivos com regularidade. Em parte, essa resistência é explicada pela estrutura social machista que associa autocuidado à fragilidade e impede a adesão a tratamentos e avaliações rotineiras.
De acordo com o estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, publicado na Jama Network, em 2025, homens que se identificam com papéis sociais mais rígidos de masculinidade têm maiores chances de desenvolver doenças cardiovasculares — hipertensão, diabete e hiperlipidemia — por evitarem consultas e exames, e demonstrarem baixa aceitação de ajuda profissional.
Saúde masculina precisa de atenção integral e mudança de perspectiva
Entre as enfermidades que afetam majoritariamente os homens estão o infarto, o AVC, a hipertensão, o câncer de pulmão, a apneia do sono e o diabetes tipo 2. Essas condições são agravadas por fatores de risco como tabagismo, sedentarismo, obesidade, colesterol alto e pressão arterial elevada.
Doenças silenciosas como a hipertensão e o diabetes tipo 2, além dos cânceres de boca, pênis e próstata, frequentemente evoluem sem sintomas aparentes. O câncer de próstata, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), é a segunda maior causa de morte entre homens acima dos 45 anos, com previsão de 65,8 mil novos casos para 2025.
A Política Estadual de Atenção Integral à Saúde do Homem e o programa Promoprev da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) priorizam medidas de prevenção e atenção básica à saúde masculina. Exames como a dosagem do PSA, ultrassonografias abdominais e avaliações do fígado, rins e pâncreas são fundamentais na detecção precoce de doenças.
Masculinidade tóxica está associada a elevados índices de adoecimento
A ideia de que homens devem ser sempre fortes e autossuficientes contribui para que muitos evitem consultas médicas, exames preventivos e até apoio psicológico. Para a psicóloga Milane Garcia, coordenadora do Núcleo de Atendimento Psicopedagógico de Medicina (NAP) da UnexMED Jequié e do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do município, a construção social da masculinidade afeta a saúde física, emocional e incentiva o silêncio, a negação da vulnerabilidade e da dor. O homem sofre uma violência constante ao ser ensinado que não pode adoecer, nem demonstrar fragilidade:
“A mudança vai acontecer quando o homem se conscientizar que cuidar da saúde é sinal de responsabilidade e não de fraqueza. Manter uma alimentação equilibrada, praticar exercícios, moderar o consumo de álcool e realizar exames de rotina são atitudes que ajudam a reduzir os riscos e aumentam a longevidade e a qualidade de vida dos homens. Além disso, as ações de conscientização devem evidenciar a necessidade do cuidado contínuo, não apenas em meses pontuais. Os padrões culturais de masculinidade não devem ser empecilhos para à saúde. É importante promover uma mudança cultural que incentive os homens a cuidarem da própria saúde, de forma preventiva e regular”, revela.

Milane Garcia, coordenadora do Núcleo de Atendimento Psicopedagógico de Medicina (NAP) da UnexMED Jequié e do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do município
Perfil da saúde do homem brasileiro segundo estudos recentes
• Homens vivem em média cinco anos a menos que mulheres;
• Metade deles realiza exames de rotina;
• Cerca de 65% evitam ir ao médico pelo maior tempo possível; um em cada três sequer busca os resultados dos exames;
• Uso de álcool e outras substâncias é frequentemente uma forma de mascarar problemas emocionais;
• Crenças tradicionais sobre os papéis sociais contribuem para a ideia de que, para ser um ‘bom’, o homem precisa ser duro, corajoso e autossuficiente;
• Suicídio é quase quatro vezes mais comum entre homens.