Casos em pessoas com menos de 50 anos aumentou 79% entre 1900 e 2019

Diagnosticada com câncer no intestino em janeiro de 2023, a cantora Preta Gil de 48 anos usou as redes sociais para contar sobre a adenocarcinoma identificada na porção final do órgão. Ela tinha picos de pressão alta, sentia muita dor de cabeça, chegava a ficar até 10 dias sem ir ao banheiro e as fezes continham muco e sangue. Em dezembro do ano passado, depois da quimioterapia e da radioterapia, a artista foi operada para retirada de mais tumores. A cirurgia durou cerca de 18 horas e foi bem-sucedida. Atualmente, ela está com uma bolsa de colostomia definitiva.

Segunda doença mais comum no aparelho digestivo de homens e mulheres, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), terceira maior causa de morte por câncer no Brasil em 2020, representando um em cada 10 tumores identificados, o câncer de intestino atinge por ano, quase dois milhões de pessoas. Para 2025, a estimativa do INCA é de 45.630 novos casos no país. A neoplasia é mais frequente no intestino grosso; no intestino delgado – conhecido como intestino fino – a patologia é mais rara.

O câncer colorretal se origina a partir de células da mucosa intestinal, que podem formar pólipos. Embora inicialmente benignos, esses pólipos podem sofrer alterações ao longo do tempo e se tornar cancerígenos. Caso a doença não seja identificada e tratada precocemente, o tumor pode invadir órgãos vizinhos, como próstata, bexiga e estruturas do abdômen.

Entre os principais fatores de risco, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) estão o sedentarismo, o tabagismo, o consumo excessivo de álcool, a obesidade, os hábitos alimentares não saudáveis (dieta pobre em fibras, consumo excessivo de carnes vermelhas e alimentos ultraprocessados como os embutidos, salsicha, linguiça, mortadela, presunto, apresuntado, bacon, carne de lata, salame e nuggets), o histórico familiar de câncer colorretal, câncer de ovário, útero ou mama, as doenças inflamatórias intestinais, como Doença de Crohn e Retocolite, Ulcerativa Crônica, síndromes genéticas, como polipose adenomatosa familiar e síndrome de Lynch.

Câncer colorretal cresce em pessoas com menos de 50 anos, alerta pesquisa

O número de casos de câncer colorretal em pessoas com menos de 50 anos aumentou 79% entre 1990 e 2019. Até 2030, espera-se um aumento de 31% nos casos e 21% nas mortes nesta faixa etária, segundo pesquisa publicada na BMJ Oncology. Realizada em países da Europa, Caribe, Ásia e América Latina, a análise demonstrou o quanto a alimentação e a atividade física vêm sendo negligenciadas nos últimos anos em mais de cinquenta cidades do mundo, onde o estudo foi realizado. O rápido crescimento econômico mudou o estilo de vida até dos japoneses, que atualmente têm as maiores taxas de câncer do intestino no mundo. Essa pesquisa foi realizada considerando dados de 204 países acerca da incidência de câncer, mortes, efeitos na saúde e fatores de risco em pessoas entre 14 e 49 anos.

Segundo estudos da instituição de caridade Cancer Research UK, maior organização independente de pesquisa sobre câncer do mundo, mais da metade dos casos de câncer colorretal poderiam ser evitados com hábitos saudáveis, dieta equilibrada, rica em fibras (frutas, verduras, legumes e grãos integrais) e pobre em carnes processadas e ultraprocessados, controle do peso, rastreamento e atividade física regular. A prática de exercícios reduz a inflamação no organismo e melhora a motilidade intestinal.

A obesidade associada ao diabetes tipo 2 está se tornando cada vez mais comum em pessoas mais jovens e também tem sido associada ao aumento do risco de desenvolver câncer de intestino. O médico endocrinologista Osmário Sales fez um alerta sobre o crescimento da obesidade no mundo, durante o 1º CIUNEX (Congresso Interdisciplinar da UnexMED Jequié), que aconteceu em outubro de 2023, em Jequié. De acordo com o especialista, a obesidade já é considerada a principal causa de morte na Medicina. Essa crise mundial é estimada em 2,2 bilhões de pessoas de todas as idades, especialmente, crianças e adolescentes. Outro ponto impactante é que – nessa faixa etária – a doença é descoberta tardiamente. Os programas de triagem são direcionados para pessoas com mais de 50 anos. A falta de conscientização também é mais comum entre os pacientes jovens.

Atenção aos sinais

Sintomas como sangramento retal ou sangue nas fezes (podendo ser vermelho vivo ou escurecido), mudança no hábito intestinal (diarreia ou constipação persistentes), fezes afiladas (em formato de fita), dor abdominal ou cólicas frequentes, sensação de evacuação incompleta, perda de peso inexplicada, anemia e fadiga sem causa aparente costumam surgir quando o câncer colorretal já está em estado mais avançado. A doença pode ser muito agressiva ao ser diagnosticada tardiamente, por isso, o rastreamento é essencial para a prevenção e a detecção precoce.

De acordo com a oncologista Lara Diniz, “a colonoscopia é o exame padrão-ouro para rastrear a doença, pois permite a visualização da mucosa intestinal, a remoção de pólipos e a biópsia de lesões suspeitas antes que se tornem malignas. O exame deve ser realizado aos 45 anos para a população geral e aos 35 anos para aqueles com histórico familiar de câncer colorretal ou síndromes hereditárias associadas”, alerta a especialista, que é professora da UnexMED Jequié.

Rastreamento e tratamento

  • Colonoscopia: exame de imagem que permite a visualização detalhada da mucosa intestinal e a retirada de pólipos;
  • Retossigmoidoscopia: similar à colonoscopia, mas avalia apenas o reto e a parte final do cólon;
  • Pesquisa de sangue oculto nas fezes (PSOF): método não invasivo que detecta pequenas quantidades de sangue nas fezes, podendo indicar a presença de lesões no intestino;
  • Tomografia computadorizada de abdômen e pelve (colonografia por TC): alternativa para pacientes que não podem realizar a colonoscopia;
  • Dosagem do antígeno carcinoembrionário (CEA): marcador sanguíneo útil para acompanhamento de pacientes com câncer já diagnosticado, mas não recomendado para rastreamento.

Depois de detectado, o tratamento do câncer colorretal começa com a cirurgia oncológica, que pode ser seguida pela radioterapia e pela quimioterapia. O tratamento é multidisciplinar e vai depender do estágio da doença. Pode envolver ressecção local, quimioterapia, radioterapia e terapias-alvo. O procedimento cirúrgico continua sendo o mais eficaz para o tratamento do câncer colorretal, e, nos últimos anos, a cirurgia robótica se destaca como uma das alternativas mais eficientes por permitir uma visão tridimensional, liberdade de movimento para os instrumentos cirúrgicos, incisões mais precisas e menos invasivas.

Saúde do intestino começa pela boca

O Dia Mundial da Saúde Bucal, comemorado em 20 de março, reforça a relação entre a saúde oral e a digestão. O consumo de alimentos cariogênicos (doces, biscoitos, massas, bolos, sucos artificiais, refrigerantes) e a falta de higiene bucal são prejudiciais tanto para os dentes quanto para a saúde intestinal porque provocam doenças periodontais, proporcionam o acúmulo de bactérias, que podem atingir o trato gastrointestinal, através da mastigação e da deglutição, e contribuem para o desequilíbrio da microbiota intestinal, ao aumentar o risco de inflamações e doenças.

Estudos demonstram que a presença da bactéria Fusobacterium nucleatum – comum na boca e no intestino humano – está associada ao desenvolvimento do câncer colorretal. De acordo com a dentista e estudante de Medicina da UnexMED Jequié, Taiane Duarte, “a Fusobacterium faz parte da microbiota oral saudável, porém quando o paciente tem uma má higiene bucal, uma doença periodontal, ela pode ser deglutida pela saliva, entrar na corrente sanguínea e chegar ao intestino, onde se aderem às células epiteliais, desencadeando liberação de citocinas, crescimento descontrolado das células intestinais, danos no DNA, permitindo que as células pré-malignas sobrevivam e se multipliquem”, alerta.

A campanha Março Azul-Marinho busca conscientizar a população sobre a importância de prevenir o câncer colorretal. Conhecida como a “doença do estilo de vida”, o câncer do intestino grosso é prevenível e tratável quando diagnosticado precocemente, através da adoção de hábitos de vida saudáveis e de exames de rastreamento. A disseminação dos fatores de risco é fundamental para que mais pessoas tenham acessoao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado.


Fontes citadas na matéria: 

1.  A médica Lara Diniz é especializada em Clínica Médica e Oncologia e é professora de Propedêutica Médica na Faculdade de Medicina Unex Jequié.

2.   O médico Osmário Sales é endocrinologista e metabologista

3.   A dentista Taiane Duarte é estudante de Medicina da UnexMED Jequié

By Brito

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