Após o presidente Lula deixar Pequim na quarta (14), o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ficou para uma missão. Ao lado do presidente do banco central chinês, Pan Gongsheng, falou a representantes de instituições e empresas latino-americanas como captar recursos na China.

É o que o próprio Brasil busca, neste momento. Na visão do governo, a China é hoje uma economia como aquelas que, no passado, eram os maiores investidores nos títulos públicos brasileiros. Tem juros mais baixos, um excesso de poupança e uma população que está envelhecendo, à procura de ativos que deem retorno.
No exemplo dado por um integrante da delegação de Lula, os chineses comparam um ativo de dez anos que dá 1,5% de juros, em seu país, com um ativo que dá 15% no Brasil.

A complementaridade China-Brasil, no âmbito financeiro, é porque faz sentido para empresas e governo brasileiro captarem no mercado chinês e, para os chineses, faz sentido investir no Brasil.
A força-tarefa encabeçada por Galípolo nas negociações com Pequim, que começaram em outubro do ano passado e terminaram com êxito nesta última semana, pavimentaram os caminhos para essa complementaridade acontecer.

Grandes empresas com receita em renminbi, a moeda chinesa, começam a realizar operações com os chamados panda bonds, títulos em renminbi emitidos no mercado chinês. Foi o que fez a Suzano, há seis meses, e o que estuda fazer agora a Vale, companhias brasileiras com operações de grande porte na China.

A Suzano levantou 1,2 bilhão de renminbis, equivalentes a R$ 940 milhões. Empresas europeias como a Mercedes-Benz também já lançaram panda bonds –e governos europeus, como o húngaro, anunciaram que pretendem fazê-lo neste ano.
A China vem ampliando o acesso ao mercado de dívida em sua moeda. Em 2022, por exemplo, permitiu que os recursos levantados no país sejam usados no exterior.
O memorando de entendimento assinado por Galípolo e Pan, encerrando as negociações nesta semana, é parte do esforço para abrir ainda um pouco mais seu mercado financeiro para essas operações, visando facilitá-las para as empresas e o governo brasileiro.
No evento posterior, voltado à América Latina, segundo o relato oficial chinês, o presidente do Banco Central afirmou que, diante da complementaridade e do crescimento no comércio bilateral e nos investimentos, há uma ampla perspectiva de cooperação.

Que o Brasil espera expandir os canais para o uso de moedas bilaterais, melhorar a interconexão dos sistemas de pagamento e salvaguardar conjuntamente a estabilidade financeira e o crescimento econômico.

Já o presidente do Banco Popular da China, o nome do BC chinês, afirmou que nos últimos anos a abertura financeira do país se aprofundou, “o mercado de panda bonds se tornou cada vez mais inovador, os arranjos institucionais se tornaram mais internacionalizados e o uso de fundos tornou-se mais conveniente”.
Segundo Pan, “diante da situação internacional complexa e grave, a China e a América Latina devem promover a cooperação financeira numa gama mais ampla de campos e num nível mais profundo, para enfrentar conjuntamente os desafios”.

Os panda bonds estão sendo estimulados paralelamente à reativação do swap cambial entre os dois países. Na explicação de Galípolo, dada ao jornal em meio à assinatura dos atos no Grande Salão do Povo, em Pequim, trata-se do mesmo contrato de swap que o Brasil já tem com os EUA e visa estabilidade financeira.

Dois integrantes da comitiva afirmaram que as medidas financeiras adotadas durante a visita de Lula não têm relação com a chamada desdolarização, o afastamento da intermediação do dólar nas trocas entre Brasil e China.

By Laiana

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