Dois brasileiros foram resgatados no Mianmar após dois meses convivendo em cárcere privado no país asiático. Os paulistanos Luckas “Kim” Viana, de 31 anos, e Phelipe de Moura Ferreira, de 26 anos, foram libertos neste final de semana pela ONG Exodus Road Brasil, mas o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) confirmou a informação nesta terça-feira (11).

Ao Globo, a coordenadora da ONG, Cintia Meirelles, relatou que a máfia chinesa obrigava os prisioneiros a aplicarem golpes, visando um lucro de US$ 100 mil por mês (cerca de R$ 576 mil). Caso não cumprissem, as vítimas eram submetidas a torturas físicas e psicológicas, que incluíam choques e trabalhos forçados de mais de 18h.
Luckas vivia em Bangkok, na Tailândia, mas teria sido enganado por falsas promessas e levado ao Mianmar. Em entrevista ao Metrópoles, a mãe de Luckas, Cleide Viana, contou que ficou sabendo das condições de exploração do filho após uma ligação de cerca de quatro minutos realizada no dia 27 de outubro.

Segundo a mulher, ele estava “sendo explorado, torturado e forçado a cometer crimes contra a própria vontade”.
Após o contato em outubro, ela afirmou que não recebeu mais notícias e então passou a mandar e-mails para a Embaixada de Mianmar, para o Itamaraty, para alguns deputados e até uma carta para o presidente Lula.

Em dezembro, Luckas teria ligado para a mãe novamente e contou que seus “chefes” pediram 20 mil dólares (cerca de R$ 122 mil) para liberá-lo. Por isso, ela abriu uma vaquinha online para arrecadar dinheiro e resgatar o filho.
De acordo com Cintia Meirelles, Luckas e Phelipe foram aprisionados no Triângulo de Ouro, região que faz tríplice fronteira com a Tailândia, Laos e Mianmar. Segundo a coordenadora, ali a máfia chinesa atua capturando imigrantes de várias partes do mundo, que acabam sendo obrigados a aplicar diversos tipos de crimes cibernéticos. Os delitos vão desde fraudes de investimento em criptomoedas até os chamados “golpes do amor” em aplicativos de relacionamento.
“Eles movimentam essa grana e fazem com que esses imigrantes que estão lá não possam sair. As vítimas têm os seus passaportes retirados e a comunicação com o mundo externo totalmente vigiada ou proibida. Os prisioneiros, então, passam a ter metas financeiras para cumprir. Caso não cumpra, são torturados em salas escuras com choques, são obrigados a segurar um galão de 30 litros de água por horas. Muitos deles, na maioria das vezes, têm a alimentação restringida e também trabalham de 18 a 20 horas por dia” detalha a coordenadora da ONG.

PLANO DE FUGA
Os brasileiros combinaram de fugir de sábado (8) para domingo (9), por volta de 2h30 da manhã, junto a um grupo de 85 pessoas de diferentes países que também haviam sido pegas pela máfia. A fuga aconteceu após um acordo com o Exército Budista Democrático Karen (DKBA), grupo armado ativo em Mianmar que integra a máfia chinesa.
De acordo com a coordenadora da ONG Exodus Road Brasil, o DKBA tinha uma lista com o nome de Luckas, Phelipe e outros 371 imigrantes reféns.

Os dois brasileiros foram atraídos pelos mafiosos com supostas vagas de emprego na Tailândia e perderam contato com os familiares. Eles permaneceram no mesmo complexo de Mianmar em condições precárias.

By Laiana

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